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Acordo lentamente..só e fria num sombrio amanhecer
Envolta numa teia negra sem sabor
Ouço o cintilar das notas de revolta mas não as vejo
Quase sinto o amargo de mais um dia presa em mim...
Que foi feito de mim...tantos sonhos agora esquecidos
Nem sonhos foram...apenas desejos numa noite chuvosa
Aperta me o peito num vazio
Na cabeça lateja o pensar sem liberdade
Vem me a memoria dias cinzentos sem esperança..sem medo de perder
Sem medo de ganhar...nada tenho em jogo
Se tanto posso ser o dado que rola docemente no veludo da vida
O meu corpo um simples invólucro de um dia passado
O meu coração esse há muito tempo que não sinto bater
Gelou com o frio da minha própria censura do errado contra o certo
Onde pairam os anjos que me deviam abraçar?
Deixo então que os raios de sol me beijem a face
Não lhes sinto o sabor nem calor
Apenas quero ficar no silencio da minha inocência
Presa neste teatro, numa personagem sem vontade própria
Quero saborear a liberdade...quero sentir o toque de me soltar de mim
Mas cada vez que me tento soltar a teia...essa
Prende me com mais e mais força..
Numa melancolia previsível onde eu sou apenas o que ela me faz
A minha sombra apenas a imagem que ela quer que eu seja
Tira me a vontade de me levantar para mais um dia
Acordo lentamente..só e fria num sombrio amanhecer
Mais um dia...mais uma nota solta
Passeiam se nas paredes...já nem elas me dizem nada
Tudo parece sedento de liberdade
Tal como eu...Procuro a minha liberdade numa teia de passado
Quero por uma vez sentir a liberdade de não saber o amanha...e ser feliz
Desenho-me então feliz na areia e espero...
Talvez amanha eu seja livre ...até amanha
Foto : Especialmente cedida pela Platy