O 3º acto

|



Preso numa plateia onde o espectáculo é noite
E por mais que o palco mude
O que sinto parece que não encontra os actores
Por mais que queira acreditar em mim
É nas minhas duvidas que acabo por me levantar
Desato o laço da cadeira
Não preciso mais dela
Preciso de apanhar ar de mim
E me encontrar numa qualquer rua mal iluminada
Vejo que por ela escorre a geada já liquida
Corre para o mesmo teatro
Mas lá sentia uma falta de ar imprevisível
Sei que tenho de lá voltar
Nem que seja mais uma ultima vez
Para ver o fim da peça
Porque despertou o que achei já morto
E me fez aplaudir tudo que me fez vibrar
Enquanto caminho nesta viela
Percebo pelos neons meio fundidos que prefiro parar
E mesmo antes de voltar para o 3 acto
Perceber se a questão maior da peça é
Se transmitem o que vai dentro do enredo
E não deixar o exterior ficar dentro
Pois o que caminha comigo é apenas eu sim
Mas também o mais interno de alguém
A nossa melhor parte
E também por vezes a pior...o resto é teatro.
...
Sempre preferi opera
E então volto para o teatro
Nem que seja para ver junto a porta.
.
.


Acordar acordado.

|



Visto uma roupa estranha de mim
A rua esta deserta de pessoas que quero ver
Mas uma vez que hoje não chove
O lago estranho que me beija os pés
Não me mostra hoje o meu reflexo
E ainda bem
Pois quero apenas ouvir o reflexo da minha voz
Solitária e ainda assim determinada
A ter certos dias de sombra
Não existe uma razão
Talvez me falte a fadiga de um corpo
A critica de uma voz
Talvez por saber que não existe outra pessoa como tu
E com esta voz solitária
Caminho sabendo que um 6 também pode ser um 9
Mas no final isso pouco importa
Sou demasiado tímido para te roubar um sorriso
E demasiado desconfiado para mostrar me todo, em vez de cacos...
O dia abraça me agora
E com ele o frio de inverno
Eu sem a roupa que gosto tanto de vestir
Apenas uma que não me abriga...
.
.